O STF que o ‘Estadão’ não mostra

Por Luís Roberto Barroso

É possível não gostar da Constituição e do papel que ela reservou para o Supremo. Mas criticar o tribunal por aplicar a Constituição é que não é justo

No último ano, o jornal O Estado de S. Paulo produziu mais de 40 editoriais tendo por objeto o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgãos que presido. Por um lado, tal fato revela a importância que o Judiciário tem na vida brasileira, seu papel na preservação da estabilidade institucional e nas conquistas da sociedade. O Brasil é o país que ostenta o maior grau de judicialização do mundo, o que revela a confiança que a população tem na Justiça. Do contrário, não recorreria a ela.

E, no entanto, praticamente todos os editoriais foram duramente críticos, com muitos adjetivos e tom raivoso. Ainda que não deliberadamente, contribuem para um ambiente de ódio institucional que se sabe bem de onde veio e onde pretendia chegar. Ao longo do período, o jornal não vislumbrou qualquer coisa positiva na atuação do STF ou do CNJ. Faz parte da vida. Parafraseando Rosa Luxemburgo, liberdade de expressão é para quem pensa diferente. Mas o que existe está nos olhos de quem vê.

Passaram despercebidas algumas transformações relevantes e perenes para o Judiciário. Foram criados os Exames Nacionais da Magistratura e dos Cartórios, para garantir mais qualidade e integridade nos concursos dessas carreiras. Foram implementadas resoluções que estabeleceram: paridade de gênero nas promoções por merecimento para os tribunais; redução de milhares de reclamações trabalhistas mediante homologação das rescisões pela Justiça do Trabalho; aumento expressivo da arrecadação dos municípios pela exigência de prévio protesto da certidão de dívida ativa antes do ajuizamento da execução fiscal; extinção de mais de 4 milhões de execuções fiscais inviáveis; envio de mais de R$ 200 milhões para ajudar a recuperação do Rio Grande do Sul, com verbas das penas pecuniárias que estavam em juízo, em meio a inúmeras outras medidas.

O Supremo Tribunal Federal é o tribunal mais produtivo do mundo, tendo proferido mais de 114 mil decisões apenas em 2024. Entre elas, destacam-se: enfrentamento ao etarismo, permitindo que maiores de 70 anos escolham o regime de bens do casamento; rejeição ao assédio judicial a jornalistas; imposição de um critério mínimo de reajuste para o FGTS dos trabalhadores; execução imediata da pena após condenação pelo Tribunal do Júri; enfrentamento à judicialização da saúde, com a previsão de critérios para fornecimento de medicamentos; atuação decisiva no acordo de Mariana (MG), que resultou na destinação de R$ 170 bilhões para vítimas do desastre.

Naturalmente, toda e qualquer decisão é passível de divergência ou crítica. Menciono algumas referidas nos editoriais. O STF de fato determinou o uso de câmeras na farda em operações policiais militares. Há quem ache que a violência policial descontrolada contra populações pobres é uma boa política de segurança pública. Mas não é o que está na Constituição. O STF ordenou a elaboração de um plano para o sistema prisional. Há quem ache natural presos viverem sob condições indignas de violência e insalubridade. Mas não é o que está na Constituição.

O tribunal estabeleceu qual a quantidade de drogas distingue porte para consumo pessoal e tráfico. Há quem ache natural a polícia decidir que a mesma quantidade nos bairros de classe média alta é porte e na periferia é tráfico, em odiosa discriminação de classe e de raça. Mas não é o que está na Constituição. Por igual, é possível ser contra a demarcação de terras indígenas e a favor de invasores, grileiros, garimpeiros ilegais e os que extraem ilicitamente madeira. Mas não é o que está na Constituição. Da mesma forma, há quem fique indiferente diante do desmatamento, das queimadas e da destruição dos biomas brasileiros. Mas não é o que está na Constituição.

Em suma, é possível não gostar da Constituição e do papel que ela reservou para o Supremo Tribunal Federal. Mas criticar o Supremo por aplicar a Constituição é que não é justo. A referência ao “afã por holofotes” tem pouco sentido. Nós julgamos “na frente dos holofotes”, com transmissão por TV aberta. É a lei. Somos o tribunal mais transparente do mundo. Desagradar segmentos importantes faz parte do trabalho de bem interpretar a Constituição.

Os editoriais procuram dar especial ênfase a pesquisas de opinião com porcentuais negativos. Tais pesquisas revelam, no máximo, o que um grupo de pessoas pensa, e não o que é a verdade. Quando o Supremo determina a desintrusão de 5 mil garimpeiros de uma terra que possuía mil indígenas, uma pesquisa na região revelaria grande impopularidade do tribunal. Popularidade e legitimidade são coisas completamente diferentes. A propósito, nenhum ministro do STF recebe remuneração acima do teto constitucional.

O Supremo Tribunal Federal tem três grandes missões: assegurar o governo da maioria, preservar o Estado de Direito e proteger os direitos fundamentais. Sob a Constituição de 1988, temos 36 anos de eleições regulares, estabilidade institucional e avanço nos direitos de todos os brasileiros, inclusive de mulheres, negros, gays, comunidades indígenas e pessoas com deficiência. Com plena liberdade de expressão, inclusive para críticas injustas. Sinal de que, mesmo sendo impossível agradar a todos, temos cumprido bem o nosso papel.

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Nota do presidente do Supremo Tribunal Federal sobre a morte de Jimmy Carter

Ministro Luís Roberto Barroso se manifestou sobre falecimento do ex-presidente dos EUA.

Leia abaixo a mensagem do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, sobre a morte de Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos.

“O Presidente Jimmy Carter foi uma pessoa que honrou a vida pública, com integridade e compromissos com a democracia e com os direitos humanos. A Fundação que leva o seu nome foi observadora das eleições brasileiras, em participação importante. Sua memória merece ser reverenciada como alguém que deu contribuição valiosa à causa da humanidade.”

Presidente do STF anuncia menor acervo de processos em 30 anos

Ministro Luís Roberto Barroso fez balanço das atividades do Tribunal em 2024.

No encerramento do Ano Judiciário 2024, nesta quinta-feira (19), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, anunciou uma redução de 15% no acervo de processos do Tribunal em relação a 2023. Atualmente, há 20.355 processos em tramitação no STF, a menor marca registrada em 30 anos.

Nesta última sessão do ano, o ministro apresentou prestação de contas com os dados estatísticos e as atividades desenvolvidas em 2024. Conforme divulgou, o STF produziu mais de 114 mil decisões, sendo 92.805 monocráticas e 21.436 colegiadas. Nesse período, o Tribunal recebeu 80.812 processos (26 mil originários e 54 mil recursais), com redução dos recursos e aumento relevante dos originários.

Barroso também registrou um aumento expressivo no número de reclamações – instrumentos processuais contra decisões que potencialmente descumprem entendimentos do STF. Em 2023, chegaram ao Tribunal 7.300 reclamações, número que passou para quase 10 mil em 2024, um aumento de 35%. “Essa é uma consequência de o Supremo ter se tornado um tribunal de precedentes, e esses precedentes serem vinculantes, o que justifica o aumento das reclamações”, afirmou.

Veja a íntegra do documento com as atividades realizadas pelo STF em 2024.

Sessão plenária do STF - 19/12/2024

Lançamento da inteligência artificial MARIA

Ontem (16/12) participei do lançamento da MARIA, nova ferramenta de inteligência artificial generativa do Supremo Tribunal Federal.

Essa é uma ferramenta auxiliar para resumir e criar relatórios, e a responsabilidade final pela produção dos textos continuará sendo dos ministros e servidores do STF. Nada do que a gente tem feito para agilizar o trabalho do Judiciário dispensa a responsabilidade e a supervisão humana.

Veja fotos no Flickr do STF.

Lançamento da Plataforma "Maria" - 16/12/2024

Presidente do STF aborda autonomia e tecnologias digitais em seminário internacional na Corte de Cassação da Itália

Ministro Luís Roberto Barroso destacou riscos à autonomia individual durante evento promovido pela OAB e Universidade Sapienza de Roma.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, participou nesta sexta-feira (13) da abertura do Seminário Internacional sobre Autonomia Privada na Contemporaneidade, realizado na Corte de Cassação da Itália, em Roma.

Além do ministro, estiveram na exposição inaugural o professor Guido Alpa, da Universidade Sapienza, e Marcus Vinícius Furtado Coelho, presidente da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais do Conselho Federal da OAB.

Barroso falou sobre o impacto da Revolução Tecnológica e das mudanças de costumes sobre o princípio da autonomia individual, com a ascensão das plataformas digitais, o avanço da Inteligência Artificial e temas como uniões entre pessoas do mesmo sexo, interrupção de gestação e aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas.

À tarde, o presidente do Supremo foi recebido no Tribunal Constitucional da Itália pelo vice-presidente, Giovanni Amoroso, com quem conversou sobre o momento complexo que o mundo vive e o papel das supremas cortes na promoção de direitos e preservação da democracia.

Na véspera, o ministro Luís Roberto Barroso compareceu à pré-estreia em Roma do filme “Ainda estou aqui”, com a presença do diretor Walter Salles e da atriz Fernanda Torres, que conduziram um debate após a exibição. Quando Fernanda anunciou a presença do presidente do STF na sessão, a plateia irrompeu em caloroso aplauso. Ao final, Barroso cumprimentou os artistas e observou que o filme faz crítica profunda da ditadura e da tortura “com poesia e com ênfase nas relações humanas, não na política”.

Veja imagens do seminário, clique aqui!

Palestra no STF Inspira

Pela primeira vez, fiz uma palestra em formato 𝘵𝘢𝘭𝘬 nesta terça-feira (10/12). Mais curta do que uma aula convencional e muito mais suscinta que qualquer sessão plenária. Mas creio que foi suficiente para compartilhar ideias relevantes sobre democracia, direitos fundamentais e a Constituição de 1988. Compartilho a experiência aqui, na certeza de que nunca é cedo ou tarde para aprender e ensinar.

Abertura do 18° Encontro Nacional do Poder Judiciário

Nesta segunda-feira (2/12), depois de compartilhar os resultados do meu primeiro ano de gestão à frente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, me dirigi à magistratura presente no auditório com esta mensagem final. Por aqui, a missão de fazer do Brasil um país maior e melhor, norteado pela justiça social e à luz da democracia, é o que nos move.

Avanços civilizatórios em 36 anos de Constituição

A Constituição brasileira de 1988 chega aos 36 anos com as marcas e cicatrizes da maturidade. Tem servido bem ao país em tempos que não foram banais. Vivemos épocas de bonança econômica e de recessão. Tivemos governos mais à esquerda e mais à direita. Escândalos de corrupção se multiplicaram. Uma pandemia, gerida de maneira desastrosa, levou à morte 700 mil brasileiros. Houve dois impeachments de presidentes, bem como ameaças de golpe de Estado e os devastadores ataques do 8 de Janeiro.

Apesar de sustos, sobressaltos e vícios persistentes, há realizações importantes a celebrar. A primeira delas é o mais longo período de estabilidade institucional da fase republicana. Não custa relembrar que a História do Brasil foi marcada por sucessivas quebras da legalidade constitucional. Da Revolução de 1930 ao golpe de 1964, do Estado Novo ao AI nº 5, do impedimento à posse de Pedro Aleixo ao Pacote de Abril de 1977, foram repetidas as crises e soluções autoritárias. Apesar de alguma apreensão recente, superamos os ciclos do atraso. Aprendemos que, apesar de tudo, é bom viver numa democracia. Só quem não soube a sombra não reconhece a luz.

Também devemos celebrar a conquista de estabilidade monetária. Os mais antigos viveram os dias aflitos da inflação descontrolada e dos planos econômicos fracassados. Um contexto econômico que penalizava os mais pobres, aumentando o abismo social. Neste ano em que o Real completa 30 anos, vale enfatizar que a desvalorização da moeda e o endividamento descontrolado atingem, antes e acima de tudo, os que não têm como se proteger no mercado financeiro.

Na cota dos avanços civilizatórios, há conquistas importantes a celebrar. As mulheres assumiram novo papel na família, na sociedade e no mercado de trabalho. A comunidade LGBT teve reconhecido o direito às uniões homoafetivas e ao casamento. Os povos indígenas tiveram algumas de suas terras demarcadas. Afrodescendentes foram beneficiados por programas de ação afirmativa e pelo reconhecimento tardio de que existe, entre nós, um racismo estrutural a derrotar. Pessoas com deficiência viram aumentar a consciência acerca da acessibilidade e do capacitismo. Não são lutas acabadas, mas na vida é preciso celebrar as vitórias do caminho.

O Supremo Tribunal Federal (STF), no arranjo institucional brasileiro, desempenha um papel diferenciado, de maior protagonismo, em contraste com Cortes pelo mundo afora. As razões são fáceis de demonstrar. A Constituição brasileira traz para o campo do Direito muitos temas que, noutros países, são deixados para a política e para a legislação ordinária. Além disso, inúmeras ações diretas podem ser propostas perante o Supremo por centenas de atores institucionais e privados. Esse fato permite que quase qualquer questão de mínima relevância no país seja levada ao Tribunal. Some-se a isso uma larga competência criminal que atrai o julgamento de parlamentares e autoridades do primeiro escalão e, por fim, a transmissão dos julgamentos pela televisão.

Nesse contexto, o STF decide as questões mais divisivas da sociedade brasileira. Muito pouco há de ativismo. O Tribunal aplica uma Constituição abrangente. E julga muitos casos controvertidos e importantes: da união entre pessoas do mesmo sexo à definição da quantidade de droga que distingue usuário de traficante; da proibição do nepotismo à garantia de mínimas condições de humanidade nos presídios. São questões polêmicas, em que pessoas esclarecidas e bem-intencionadas pensam de maneira diferente e vocalizam seu descontentamento. As críticas e insatisfações são, portanto, inevitáveis.

O STF tem como principal missão ser o guardião da Constituição. Isso significa assegurar o governo da maioria, preservar o Estado de Direito e proteger os direitos fundamentais. Em meio a muitas incompreensões e inevitáveis imperfeições humanas, tem sido uma missão bem cumprida. Sem unanimidades, naturalmente, porque pensamento único só há em ditaduras.

Palestra em Stanford sobre o papel diferenciado do STF

Recentemente, estive em diversos eventos na Universidade de Stanford. Um deles foi um debate com o Professor Diego Werneck sobre o papel diferenciado do Supremo Tribunal Federal do Brasil, em contraste com as cortes constitucionais de outros países. Abaixo o vídeo “The Distinct Role of the Brazilian Supreme Court”.

CNN – Entrevista do primeiro ano de minha gestão no STF

Concedi entrevista para as jornalistas Luísa Martins e Basília Rodrigues, da CNN, por ocasião do primeiro ano de minha gestão no Supremo Tribunal Federal e no Conselho Nacional de Justiça. Falei sobre a atuação do STF e de dados sobre a gestão, dos julgamentos relevantes no período, da relação entre os poderes e da saúde da democracia brasileira.

Confira aqui:

Pacto pela Transformação Ecológica – Action Day, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU)

Nosso Pacto pela Transformação Ecológica chegou às Nações Unidas. Na última segunda-feira (23/9), compartilhei no 𝘈𝘤𝘵𝘪𝘰𝘯 𝘋𝘢𝘺, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o compromisso recentemente assinado entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para promover a agenda ambiental e climática e definir um novo rumo de desenvolvimento sustentável para o nosso país.

Conjuntamente, temos 26 objetivos que envolvem medidas legislativas, administrativas e judiciárias, como agilizar aprovação de leis e julgamentos. Nosso maior objetivo é que o Brasil passe a ocupar uma posição de liderança nas agendas globais de meio ambiente e, dentro e e fora do nosso território, atue de forma mais incisiva para enfrentar as mudanças climáticas.

Dia da Amazônia

A Amazônia é a maior prestadora de serviços ambientais do planeta, seja com a sua rica biodiversidade, seja no papel que presta no ciclo da água ou como a maior armazenadora de dióxido de carbono do mundo graças à fotossíntese. É um dever constitucional defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

#DiaDaAmazônia

Lançamento “Inteligência Artificial, Plataformas Digitais e Democracia

Na última quarta-feira (20) lancei aqui em Brasília o meu livro “Inteligência Artificial, Plataformas Digitais e Democracia”. Nesta publicação pude explorar alguns dos grandes temas contemporâneos: inteligência artificial, revolução tecnológica, plataformas digitais, mudança climática, democracia, populismo autoritário e o persistente patrimonialismo brasileiro.

Acredito que essa copublicação da Editora Fórum e o Migalhas possa ser um guia essencial para acadêmicos, profissionais do Direito e cidadãos interessados no impacto transformador da tecnologia sobre as instituições e os valores democráticos. Procuro lançar um olhar crítico-construtivo, que ajude a empurrar a história na direção do bem, da justiça e do avanço civilizatório.

Adquira o seu neste link https://loja.editoraforum.com.br/inteligencia-artificial-plataformas-digitais-e-democracia

Reforma Tributária, STF, Inteligência Artificial e outros temas

Conversei, recentemente, com Mônica Sodré, do UM BRASIL, sobre algumas das principais questões do mundo contemporâneo. Entre elas, Inteligência Artificial, Reforma Tributária, plataformas digitais, mudança climática, democracia e, especificamente para o Brasil, papel do Supremo Tribunal Federal e seu relativo protagonismo (não ativismo) no arranjo institucional brasileiro.

A conversa já está disponível no Youtube. Assista na íntegra:

Pacto pela Transformação Ecológica entre os três Poderes do Estado brasileiro

Hoje (21/08) assinei junto com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva , Rodrigo Pacheco e Arthur Lira o Pacto pela Transformação Ecológica entre os Três Poderes. A transformação ecológica é uma das grandes questões do mundo contemporâneo. Precisamos enfrentar a mudança climática porque ela começa a afetar não mais o futuro, mas o presente. O Brasil tem todas as condições de liderar esse processo porque temos energia limpa, energia renovável e a Amazônia que é a maior prestadora de serviços ambientais do mundo.

Impactos da Inteligência Artificial no Constitucionalismo Contemporâneo

Ontem (19/08/2024) participei do debate Impactos da Inteligência Artificial no Constitucionalismo Contemporânea na sala de sessões da Primeira Turma do STF. Durante a abertura tive a companhia do decano da Corte, ministro Gilmar Mendes, o Ministro Caputo Bastos e a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Edilene Lôbo.

Na minha fala apresentei um breve contexto da evolução tecnológica, dos projetos de inteligência artificial desenvolvidos pelo Supremo. Conversamos também sobre as lacunas institucionais, normativas e autorregulatórias necessárias, além das influências e implicações legais e éticas das novas tecnologias na liberdade de escolha, de expressão e de manifestação do pensamento.

Assista na íntegra:

Manifestação na abertura da sessão plenária sobre os pedidos formulados pelo STF ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

No plenário do STF, em 14/08/2024, defendi a legalidade de todos os atos praticados no tribunal:

Antes de iniciar a sessão, porque o tema tem sido debatido na imprensa e  nas redes sociais, me permito dizer algumas breves palavras. Na vida, às vezes  existem tempestades reais e, às vezes, existem tempestades fictícias. E acho que  estamos diante de uma delas. 

Em primeiro lugar, todas as informações que foram solicitadas pelo  Supremo Tribunal Federal e pelo relator dos inquéritos, ministro Alexandre de  Moraes, referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas e, portanto, a inquéritos que já estavam abertos perante o STF. Informações voltadas à obtenção  de dados, diante da denúncia de reiteração de condutas ilegítimas de  desinformação, de circulação de ataques à democracia e de discursos de ódio. Em  nenhuma hipótese, em nenhum caso, houve fishing expedition dirigida  personalizadamente a qualquer pessoa de maneira arbitrária. Informações para  instruir inquéritos que já estavam em curso.  

Em segundo lugar, e muito importante, todas essas informações solicitadas  eram públicas. Solicitadas ao órgão do Tribunal Superior Eleitoral que fazia o  acompanhamento das redes sociais. Portanto, não houve aqui nenhum tipo de  investigação de natureza policial ou investigação que dependesse sequer de reserva  judicial. Era o acompanhamento de dados e informações, notícias e postagens em  redes sociais para verificar se ali havia alguma conduta criminosa ou alguma  conduta que estava sendo investigada no âmbito dos inquéritos do Supremo  Tribunal Federal. É muito importante deixar isso claro. Não houve pedido  direcionado arbitrariamente a qualquer pessoa. 

Em terceiro lugar, os diversos inquéritos aqui do Supremo, das fake news,  das milícias digitais, da tentativa de golpe e seus diferentes desdobramentos, são  conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes. Como é próprio dos inquéritos. 

São conduzidos por um relator e quando há alguma decisão que envolva reserva  judicial ou alguma complexidade, ela é ratificada pelo plenário.  

Por acaso, o condutor do inquérito era também o presidente do Tribunal  Superior Eleitoral. Eram a mesma pessoa: o condutor do inquérito e presidente do  Tribunal Superior Eleitoral. De modo que a alegada informalidade é porque  geralmente ninguém oficia para si próprio. Portanto, como as informações eram  do presidente do Tribunal Superior Eleitoral para o condutor do inquérito, elas não  eram formalizadas no momento da solicitação, por isso, havia algumas solicitações  informais. Mas quando as informações chegavam, elas eram imediatamente  formalizadas, inseridas no âmbito dos processos e dada vista ao Ministério  Público. Não houve nenhuma circulação de dados ou informações que não  estivessem documentados adequadamente no processo.  

Uma outra percepção equivocada que circulou a propósito deste assunto foi  que haveria iniciativas de ofício, independentemente de provocação pelo  Ministério Público. Muito importante observar, o Tribunal Superior Eleitoral,  sobretudo em questões eleitorais, ele tem o que tecnicamente se chama poder de  polícia, que significa poder de fiscalizar e poder de reprimir condutas impróprias,  condutas irregulares. 

O poder de polícia é exercido, e esse é o termo técnico, de ofício, ou seja,  independentemente de procuração. De modo que o TSE tem o dever jurídico de  atuar sempre que exista a circulação de alguma desinformação que ofereça risco  ao processo eleitoral ou ao processo democrático, do qual o processo eleitoral é  uma decorrência.  

A ideia de que foram iniciativas tomadas à margem da lei é completamente  equivocada. É uma desinformação jurídica. Poder de polícia é exercido de ofício.  Basta a verificação de que exista alguma coisa errada ou potencialmente errada  acontecendo para que ele .  

Eu ainda gostaria de lembrar, em nome do Tribunal e em defesa do ministro  Alexandre de Moraes e dos ataques impróprios, injustos que tem sofrido, o contexto em que esses procedimentos se deram, para que não se faça um  revisionismo histórico abstraindo do que nós estávamos vivendo naquela  conjuntura de risco grave para a democracia. 

E eu fiz de memória alguns registros aqui dos ataques graves que o Supremo  recebeu, inclusive vindo de altas autoridades, no dia de comemoração da  Independência do Brasil. Nós vivíamos um contexto de acampamentos nas portas  de quartéis pedindo golpe de Estado para impedir a posse do presidente da  República eleito democraticamente. Nós tivemos situações de bloqueio das  estradas. Nós tivemos situações de ministros cercados, eu mesmo, por centenas de  pessoas com ameaça de agressão. Nós tivemos inúmeras ameaças de morte. Todos  nós passamos a andar com segurança. Até pouco tempo, ninguém aqui andava com  segurança, ninguém. E, mais recentemente, precisamos fazer, pelos sucessivos  riscos que passamos a correr. Em um evento que estivemos em Nova Iorque, uma  turba, que depois se descobriu que estava recebendo diária para nos atacar, tentou  virar, em plena 5ª avenida, a van em que nós estávamos. Basta imaginar o que teria  acontecido se eles tivessem conseguido efetivamente esse intento.  

Nós vivíamos a conjuntura em que, no dia da diplomação do atual  presidente da República, a Polícia Federal foi depredada. Nós tivemos nesse  mesmo período uma bomba que foi descoberta e desarmada antes de explodir no  aeroporto de Brasília. Nós vivíamos uma conjuntura tensa e de gravíssimas  ameaças à democracia, às instituições e às pessoas. Portanto, é preciso ter em linha  conta, que as decisões eram tomadas numa conjuntura extremamente adversa, em  que se fazia uma campanha falsa, fraudulenta, contra as urnas eletrônicas, contra  a legitimidade do processo eleitoral e depois contra a posse do presidente da  República eleito.  

Portanto, todos os atos praticados pelo ministro Alexandre de Moraes se  deram no cumprimento do dever. E nós, que o acompanhamos de perto, sabemos  o custo pessoal e a coragem moral e física que exigiu enfrentar esse tipo de  movimentação antidemocrática. O risco pessoal, quando nós aceitamos estar aqui,  ainda é tolerável, mas pior é o risco para a família, para a esposa, para os filhos, as ameaças. Ninguém imagina a tensão, o desconforto e o tipo de coragem que é  preciso ter para se opor ao extremismo de uma maneira geral, venha de onde vier,  com a sua intolerância, com as suas ameaças, com a tentativa de intimidar.  

Parte da reação que enfrentamos é porque não nos deixamos intimidar para  nos opormos ao extremismo de uma maneira geral, venha de onde vier, com a sua  intolerância, com as suas ameaças, com a tentativa de intimidar. Portanto, parte da  reação que nós enfrentamos é porque não nos deixamos intimidar. Portanto, nós  não podemos rever a história, esquecendo do que passou e do que é que nós  tivemos que enfrentar nesse país, infelizmente, em ciclos de atraso que nós  achávamos que já havíamos superado.  

E, respeitando o papel da Comunicação Social, porque nós não temos nada  a esconder, tudo aqui é transparente e, portanto, a preocupação não é o tipo de  notícia que vem à luz do dia, porque ninguém aqui tem nada a esconder e o papel  da imprensa é divulgar mesmo a notícia que parece ser interessante para o público.  Mas as interpretações equivocadas e as narrativas inverazes, essas nós precisamos  enfrentar.  

Portanto, a nossa dificuldade não é com a divulgação de nenhuma  informação, isso não nos preocupa, mas as interpretações erradas, essas nós  precisamos desfazer e essa é a única razão pela qual eu estou tratando desse  assunto. E todos nós precisamos refletir seriamente a quem aproveita a construção  de uma narrativa que procura descredibilizar quem impediu que aquelas forças  prevalecessem no Brasil, naquele momento histórico trágico e muito difícil.  

O Supremo Tribunal Federal, como toda instituição humana, é passível de  crítica e de divergência, e ninguém aqui se acha imune a visões críticas, faz parte  da vida. Numa democracia, a verdade não tem dono, ninguém tem o monopólio da  virtude. Portanto, não é uma questão de ter crítica ou de divergir de decisões do  Supremo. Nós decidimos as questões mais divisivas da sociedade brasileira. E,  portanto, faz parte do nosso papel, ao interpretar a Constituição, com muita  frequência, desagradar setores importantes da sociedade, às vezes ao governo, às  vezes à sociedade civil, às vezes aos ambientalistas, às vezes ao agronegócio, às vezes aos indígenas. A gente está sempre sujeito a desagradar algum segmento e  numa democracia, todo mundo tem o direito de vocalizar a sua insatisfação e nós  convivemos muito bem com isso. 

Porém, nós somos comprometidos com a Constituição, nós somos  comprometidos com a busca da verdade possível, numa sociedade plural. Nós  somos comprometidos com a democracia e comprometidos por fazer um país  melhor e maior. É para isso que todos nós estamos aqui. Nossos compromissos são  com o Brasil.  

Nós não temos lado. O nosso lado é o Brasil, a democracia e a proteção dos  direitos fundamentais. Portanto, não somos imunes a críticas, mas ninguém  suponha, em algum momento, que esses não sejam os nossos compromissos.  Portanto, queria prestar esses esclarecimentos de fato e considero muito importante  e de novo: para tudo nós temos uma explicação legítima do que é feito aqui.  

Nada é feito nas sombras, nada é feito na surdina, tudo é feito para cumprir  a Constituição, as leis e para o bem do Brasil. E, por evidente, alguém pode pensar  que o bem esteja em lugar diferente porque assim é próprio da democracia e das  sociedades abertas. 

Assista na íntegra no Youtube:

Ciclo de Conferências na ABL – Palestra “A Justiça”

Na terça-feira 30 de julho, estive na Academia Brasileira de Letras (ABL), a convite do Acadêmico Antônio Carlos Secchin, falando sobre o tema “Pensar a Justiça”. Casa cheia, com a presença de muitos amigos, do médico Paulo Niemeyer ao meu ex-aluno e grande advogado Gustavo Binenbojm, passando por pessoas queridas, como Joaquim Falcão, Tercio Sampaio Ferraz, José Roberto Castro Neves, Eduardo Maneira e muitos outros.

Fiz reflexões sobre diferentes teorias da justiça, comentando, brevemente, visões de autores como John Rawls e Amartya Sen. Falei sobre as relações entre o Direito e a Justiça, bem como o papel do Judiciário em geral e do Supremo Tribunal Federal em particular. A mesa foi coordenada pelo jornalista Merval Pereira, presidente da ABL.

Como expus na minha apresentação, em meio a muitas compreensões possíveis, Justiça é a combinação equilibrada de valores como liberdade, igualdade, solidariedade, imparcialidade e correção moral.

A Amazônia é a maior prestadora de serviços ambientais para o Brasil, para o mundo e para a humanidade.

Em junho tive a oportunidade de sobrevoar áreas desmatadas em Altamira ao lado do ministro Herman Benjamin e dos presidentes do Ibama e do ICM-Bio como primeira ação local do Programa Judicial de Acompanhamento do Desmatamento da Amazônia. O Projada tem como objetivo monitorar as ações do Poder Judiciário dos estados da Amazônia para garantir a preservação do bioma. A presença do Judiciário se justifica porque essa região está no coração da Amazônia e sofre grande desmatamento. É o futuro da humanidade que está em jogo. Aliás, o próprio presente encontra-se sob ameaça. A mudança climática é um problema que começa a acontecer aqui e agora, não estamos lidando com questão abstrata e teórica. O Judiciário tem papel decisivo na proteção das gerações atuais e futuras e está atento para o enfrentamento da degradação ambiental.

Na mesma missão pude acompanhar os serviços prestados pelo sistema de Justiça durante a segunda edição da Justiça Itinerante Cooperativa na Amazônia Legal na cidade de Humaitá no Amazonas. O atendimento na cidade é fruto de uma parceria entre o CNJ, o Conselho da Justiça Federal (CJF), o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), além de diversos órgãos municipais, estaduais e federais. Cerca de dez mil pessoas foram atendidas para obtenção de documentos, aposentadoria rural, tratamento médico e outras providências.

Confira a galeria de imagens de Altamira aqui e mais imagens de Humaitá Flickr do STF.

Dia Mundial do Meio Ambiente

Hoje celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, e nesse clima resolvemos celebrar o maior bioma do Brasil: a Amazônia. Ela que abriga 7% da superfície total do planeta e possui cerca de 50% da biodiversidade mundial. É patrimônio nacional, definido pelo art. 225, § 4º, da Constituição, que trata da proteção ao meio ambiente. Por isso, é dever do STF protegê-la e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo.

Precisamos de consciência sobre a importância da Amazônia, de que a floresta vale mais em pé do que derrubada. A natureza deu um alerta para o Brasil e para o mundo com a tragédia no Rio Grande do Sul. Segue minha fala no início da sessão do Supremo Tribunal Federal de 05/06/24.

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