Manifestação na abertura da sessão plenária sobre os pedidos formulados pelo STF ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

No plenário do STF, em 14/08/2024, defendi a legalidade de todos os atos praticados no tribunal:

Antes de iniciar a sessão, porque o tema tem sido debatido na imprensa e  nas redes sociais, me permito dizer algumas breves palavras. Na vida, às vezes  existem tempestades reais e, às vezes, existem tempestades fictícias. E acho que  estamos diante de uma delas. 

Em primeiro lugar, todas as informações que foram solicitadas pelo  Supremo Tribunal Federal e pelo relator dos inquéritos, ministro Alexandre de  Moraes, referiam-se a pessoas que já estavam sendo investigadas e, portanto, a inquéritos que já estavam abertos perante o STF. Informações voltadas à obtenção  de dados, diante da denúncia de reiteração de condutas ilegítimas de  desinformação, de circulação de ataques à democracia e de discursos de ódio. Em  nenhuma hipótese, em nenhum caso, houve fishing expedition dirigida  personalizadamente a qualquer pessoa de maneira arbitrária. Informações para  instruir inquéritos que já estavam em curso.  

Em segundo lugar, e muito importante, todas essas informações solicitadas  eram públicas. Solicitadas ao órgão do Tribunal Superior Eleitoral que fazia o  acompanhamento das redes sociais. Portanto, não houve aqui nenhum tipo de  investigação de natureza policial ou investigação que dependesse sequer de reserva  judicial. Era o acompanhamento de dados e informações, notícias e postagens em  redes sociais para verificar se ali havia alguma conduta criminosa ou alguma  conduta que estava sendo investigada no âmbito dos inquéritos do Supremo  Tribunal Federal. É muito importante deixar isso claro. Não houve pedido  direcionado arbitrariamente a qualquer pessoa. 

Em terceiro lugar, os diversos inquéritos aqui do Supremo, das fake news,  das milícias digitais, da tentativa de golpe e seus diferentes desdobramentos, são  conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes. Como é próprio dos inquéritos. 

São conduzidos por um relator e quando há alguma decisão que envolva reserva  judicial ou alguma complexidade, ela é ratificada pelo plenário.  

Por acaso, o condutor do inquérito era também o presidente do Tribunal  Superior Eleitoral. Eram a mesma pessoa: o condutor do inquérito e presidente do  Tribunal Superior Eleitoral. De modo que a alegada informalidade é porque  geralmente ninguém oficia para si próprio. Portanto, como as informações eram  do presidente do Tribunal Superior Eleitoral para o condutor do inquérito, elas não  eram formalizadas no momento da solicitação, por isso, havia algumas solicitações  informais. Mas quando as informações chegavam, elas eram imediatamente  formalizadas, inseridas no âmbito dos processos e dada vista ao Ministério  Público. Não houve nenhuma circulação de dados ou informações que não  estivessem documentados adequadamente no processo.  

Uma outra percepção equivocada que circulou a propósito deste assunto foi  que haveria iniciativas de ofício, independentemente de provocação pelo  Ministério Público. Muito importante observar, o Tribunal Superior Eleitoral,  sobretudo em questões eleitorais, ele tem o que tecnicamente se chama poder de  polícia, que significa poder de fiscalizar e poder de reprimir condutas impróprias,  condutas irregulares. 

O poder de polícia é exercido, e esse é o termo técnico, de ofício, ou seja,  independentemente de procuração. De modo que o TSE tem o dever jurídico de  atuar sempre que exista a circulação de alguma desinformação que ofereça risco  ao processo eleitoral ou ao processo democrático, do qual o processo eleitoral é  uma decorrência.  

A ideia de que foram iniciativas tomadas à margem da lei é completamente  equivocada. É uma desinformação jurídica. Poder de polícia é exercido de ofício.  Basta a verificação de que exista alguma coisa errada ou potencialmente errada  acontecendo para que ele .  

Eu ainda gostaria de lembrar, em nome do Tribunal e em defesa do ministro  Alexandre de Moraes e dos ataques impróprios, injustos que tem sofrido, o contexto em que esses procedimentos se deram, para que não se faça um  revisionismo histórico abstraindo do que nós estávamos vivendo naquela  conjuntura de risco grave para a democracia. 

E eu fiz de memória alguns registros aqui dos ataques graves que o Supremo  recebeu, inclusive vindo de altas autoridades, no dia de comemoração da  Independência do Brasil. Nós vivíamos um contexto de acampamentos nas portas  de quartéis pedindo golpe de Estado para impedir a posse do presidente da  República eleito democraticamente. Nós tivemos situações de bloqueio das  estradas. Nós tivemos situações de ministros cercados, eu mesmo, por centenas de  pessoas com ameaça de agressão. Nós tivemos inúmeras ameaças de morte. Todos  nós passamos a andar com segurança. Até pouco tempo, ninguém aqui andava com  segurança, ninguém. E, mais recentemente, precisamos fazer, pelos sucessivos  riscos que passamos a correr. Em um evento que estivemos em Nova Iorque, uma  turba, que depois se descobriu que estava recebendo diária para nos atacar, tentou  virar, em plena 5ª avenida, a van em que nós estávamos. Basta imaginar o que teria  acontecido se eles tivessem conseguido efetivamente esse intento.  

Nós vivíamos a conjuntura em que, no dia da diplomação do atual  presidente da República, a Polícia Federal foi depredada. Nós tivemos nesse  mesmo período uma bomba que foi descoberta e desarmada antes de explodir no  aeroporto de Brasília. Nós vivíamos uma conjuntura tensa e de gravíssimas  ameaças à democracia, às instituições e às pessoas. Portanto, é preciso ter em linha  conta, que as decisões eram tomadas numa conjuntura extremamente adversa, em  que se fazia uma campanha falsa, fraudulenta, contra as urnas eletrônicas, contra  a legitimidade do processo eleitoral e depois contra a posse do presidente da  República eleito.  

Portanto, todos os atos praticados pelo ministro Alexandre de Moraes se  deram no cumprimento do dever. E nós, que o acompanhamos de perto, sabemos  o custo pessoal e a coragem moral e física que exigiu enfrentar esse tipo de  movimentação antidemocrática. O risco pessoal, quando nós aceitamos estar aqui,  ainda é tolerável, mas pior é o risco para a família, para a esposa, para os filhos, as ameaças. Ninguém imagina a tensão, o desconforto e o tipo de coragem que é  preciso ter para se opor ao extremismo de uma maneira geral, venha de onde vier,  com a sua intolerância, com as suas ameaças, com a tentativa de intimidar.  

Parte da reação que enfrentamos é porque não nos deixamos intimidar para  nos opormos ao extremismo de uma maneira geral, venha de onde vier, com a sua  intolerância, com as suas ameaças, com a tentativa de intimidar. Portanto, parte da  reação que nós enfrentamos é porque não nos deixamos intimidar. Portanto, nós  não podemos rever a história, esquecendo do que passou e do que é que nós  tivemos que enfrentar nesse país, infelizmente, em ciclos de atraso que nós  achávamos que já havíamos superado.  

E, respeitando o papel da Comunicação Social, porque nós não temos nada  a esconder, tudo aqui é transparente e, portanto, a preocupação não é o tipo de  notícia que vem à luz do dia, porque ninguém aqui tem nada a esconder e o papel  da imprensa é divulgar mesmo a notícia que parece ser interessante para o público.  Mas as interpretações equivocadas e as narrativas inverazes, essas nós precisamos  enfrentar.  

Portanto, a nossa dificuldade não é com a divulgação de nenhuma  informação, isso não nos preocupa, mas as interpretações erradas, essas nós  precisamos desfazer e essa é a única razão pela qual eu estou tratando desse  assunto. E todos nós precisamos refletir seriamente a quem aproveita a construção  de uma narrativa que procura descredibilizar quem impediu que aquelas forças  prevalecessem no Brasil, naquele momento histórico trágico e muito difícil.  

O Supremo Tribunal Federal, como toda instituição humana, é passível de  crítica e de divergência, e ninguém aqui se acha imune a visões críticas, faz parte  da vida. Numa democracia, a verdade não tem dono, ninguém tem o monopólio da  virtude. Portanto, não é uma questão de ter crítica ou de divergir de decisões do  Supremo. Nós decidimos as questões mais divisivas da sociedade brasileira. E,  portanto, faz parte do nosso papel, ao interpretar a Constituição, com muita  frequência, desagradar setores importantes da sociedade, às vezes ao governo, às  vezes à sociedade civil, às vezes aos ambientalistas, às vezes ao agronegócio, às vezes aos indígenas. A gente está sempre sujeito a desagradar algum segmento e  numa democracia, todo mundo tem o direito de vocalizar a sua insatisfação e nós  convivemos muito bem com isso. 

Porém, nós somos comprometidos com a Constituição, nós somos  comprometidos com a busca da verdade possível, numa sociedade plural. Nós  somos comprometidos com a democracia e comprometidos por fazer um país  melhor e maior. É para isso que todos nós estamos aqui. Nossos compromissos são  com o Brasil.  

Nós não temos lado. O nosso lado é o Brasil, a democracia e a proteção dos  direitos fundamentais. Portanto, não somos imunes a críticas, mas ninguém  suponha, em algum momento, que esses não sejam os nossos compromissos.  Portanto, queria prestar esses esclarecimentos de fato e considero muito importante  e de novo: para tudo nós temos uma explicação legítima do que é feito aqui.  

Nada é feito nas sombras, nada é feito na surdina, tudo é feito para cumprir  a Constituição, as leis e para o bem do Brasil. E, por evidente, alguém pode pensar  que o bem esteja em lugar diferente porque assim é próprio da democracia e das  sociedades abertas. 

Assista na íntegra no Youtube:

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