Primeira atividade foi um painel sobre pluralismo e democracia
O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu, nesta terça-feira (20), a Semana da Justiça pela Diversidade Cultural, marcando o início de uma série de atividades voltadas ao diálogo sobre identidade, inclusão, justiça e respeito às diferenças. A programação inclui palestras e rodas de conversa sobre a importância da diversidade cultural, além de manifestações culturais regionais e expressões da diversidade de outros países.
Traço essencial
“Um país, muitas vozes: pluralismo e democracia” foi o tema do painel inaugural das atividades, que reuniu o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, o historiador e escritor Leandro Karnal, a jornalista e escritora Eliana Alves Cruz, o líder comunitário Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (Cufa-RJ), e a jurista Flávia Piovesan, especialista em direitos humanos.
Na abertura, Barroso destacou a importância da diversidade cultural como traço essencial da vida brasileira e lembrou que o Brasil abriga a maior diversidade genética do mundo. “Essa combinação de etnias e de histórias dá esse toque especial à nossa vivência, presente nas festas, na culinária, na música, nos biomas e, sobretudo, nas pessoas”, disse.
O ministro também ressaltou que a diversidade é um valor democrático que deve ser promovido e protegido. “Somos um extraordinário povo multirracial, multicultural, com alegria de viver. Se acertarmos o passo em áreas como erradicação da pobreza, educação e ética, temos tudo para ser a sensação do mundo”.
Barreiras
Leandro Karnal lembrou que a necessidade de promover um evento em defesa da diversidade é, em si, um sinal de que ainda há barreiras a serem superadas. O historiador ressaltou que, embora seja uma marca do Brasil, a miscigenação foi construída também por processos históricos de violência e desigualdade, principalmente contra mulheres negras e indígenas. “Somos a pátria mestiça, e essa mestiçagem tem raízes profundas, complexas e, muitas vezes, dolorosas”, afirmou.
Já Eliana Alves Cruz abordou os impactos do racismo estrutural sobre a representatividade negra na literatura, na mídia e nos espaços de poder. “O Brasil tem uma história fraturada, cheia de lacunas, e a literatura, a cultura e a arte têm o papel de costurar essas faltas e reconstruir o imaginário do nosso povo”, afirmou.
O ativista Preto Zezé fez um relato pessoal marcado por bom humor e irreverência, em que abordou os desafios de construir uma agenda pública inclusiva e que represente a diversidade real da população brasileira. Segundo ele, “é fundamental reconhecer os avanços sociais e culturais conquistados por grupos historicamente excluídos.”
Ao fechar a rodada de apresentações, Flávia Piovesan falou sobre o papel transformador das políticas afirmativas e a necessidade de a sociedade brasileira enfrentar as desigualdades históricas. “A invisibilidade é uma violência, a indiferença é uma violência”, disse, ao defender ações concretas para promover a igualdade racial, de gênero e social.
Evento
A Semana da Justiça pela Diversidade Cultural é promovida em alusão ao Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, instituído pela ONU e celebrado em 21 de maio. A data propõe a valorização da convivência entre diferentes culturas como base para sociedades mais justas, pacíficas e democráticas.